sexta-feira, 15 de junho de 2012

Quem já não sofreu uma grande decepção?



Quem já não sofreu uma grande decepção?
É difícil viver a decepção em relação a uma pessoa.
Somos alimentados pelos sonhos da plenitude, das histórias de sapos que se transformam em príncipes, de sapatos que nos levam a Cinderela. 
Quem gosta de viver a história do fim para o começo: da Cinderela que só permanece o sapato, e o príncipe que contém o sapo?
Apreender a inversão do conto nos torna mais capazes de viver a vida real com muito menos sofrimento.
Esperamos que as pessoas aconteçam na nossa vida com a precisão de nossas necessidades.
Da diferença entre o enorme grau de nossas expectativas e a vida real, surgem nossas frustrações e raivas.
Raivas por vezes alimentadas como um sinal de indignação.
Nina, na novela Avenida Brasil, quer a cabeça de Carminha, Salomé na ópera de Strauss quer a cabeça do profeta João Batista por ele ter negado beijá-la e Elize desejou a cabeça de seu marido Marcos no caso Yoki.
O que explica as vinganças brutais?
O que explica os ressentimentos crônicos?
Quando alguém fica remoendo um trauma afetivo, se não elaborar, vira obsessão. Se torna o que em psicanálise chamamos de Catatimia quando surge o plano vingança.
Vingança não é defesa.
É psicose. 
Pois é.
Todas as três queriam a cabeça, mas acabam perdendo a própria.
Portanto... a melhor vingança vem pela construção do enfraquecimento do outro em si mesmo. Como?
Cresça, cresça muito. 
Pois crescendo se abre espaço dentro de nós e a frustração e a raiva se tornam menores, pela proporção de nosso novo tamanho. 
Espaços maiores, menos possibilidade dos acontecimentos ficarem entulhados.
O que antes não cabia na sua existência sem sufocamento, agora com o seu crescimento caberá na sua essência com menos sofrimento.


Imagem: GettyImages