terça-feira, 18 de setembro de 2012

Você Gosta de Estar No Mundo?



Você Gosta de Estar No Mundo?
Li no caderno Zona Sul do jornal O Globo, numa reportagem sobre a paixão de Tom Jobim pelo Jardim Botânico, uma declaração que a ligação de Jobim com a natureza começou sob a influência do avô que teve um grande papel em sua vida, já que o pai se separou cedo e o deixou quando era pequeno. Essa semelhança com o avô foi mantida nas duas gerações seguintes, na figura do filho e do neto de Tom: Paulo e Daniel. Traços de um foram absorvidos no outro, numa linearidade existencial.
Ao assumir a função paterna o avô deu uma referência de identidade a ser guiada. Seu amor se inscreveu no outro.
A psicanálise sempre afirmou o que as pesquisas hoje apontam: que a presença do pai cumprindo sua função tem influência na autoestima e em outros aspectos psicológicos da vida de uma pessoa. É um dos bons vetores que influenciam nossa maneira de estar no mundo. A família Jobim está no mundo com poesia, a mesma que habitava a alma do avô de Tom.
Tanto Freud quanto posteriormente Lacan rompem com a tendência de apenas imaginar o pai por meio de sua presença ou ausência física. Eles defendem a ideia da existência de substitutos. Na ausência física de um pai biológico, qualquer um que corte a díade mãe-bebê terá a força para exercer a função paterna.
O Pai Função é entre tantas coisas aquele que contribui para o melhor desenvolvimento das seguranças.
A nossa mãe nos coloca na vida e o nosso pai nos insere no mundo. 
Quando um pai leva uma filha para passear, elogia e demonstra o seu afeto, essa menina guardará para a mulher futura que ela será, uma expressão de amor que será a base da sua autoestima. A vivência desse olhar abastece as necessidades do psiquismo e se torna a alavanca para o processo saudável de individuação.
Quando penso nesta função e nos efeitos nefastos de sua ausência, sempre vem aos meus pensamentos Marilyn Monroe. Completamente destituída de segurança pessoal e feminina, passa sua vida na busca eterna de um amor que pudesse suprir a falta de um olhar paterno que a fizesse se sentir desejada e passível de reconhecer seus valores e suas competências. Apesar da vivência dos testemunhos de sucesso e adoração nada a fazia se sentir transformada em sua confiança e suprida em sua carência... O seu corpo subjetivo não se nutria daquilo que seu corpo objetivo vivenciava. Essa clivagem marcou toda a sua trajetória.
Ser pai ultrapassa a função provedora. Muitos pensam que ao propiciar alimentos, casa, viagens promovem os alimentos absolutos que uma criança precisa.
Necessitamos do olhar, precisamos ser abastecidos das certezas de sermos desejados, de sermos fontes de prazer por existirmos, para que mais tarde possamos acreditar que a nossa existência no mundo tem um lugar no desejo.
Nascemos várias vezes. A primeira, quando nosso corpo chega a vida, a segunda quando nosso corpo subjetivo é concebido através do olhar paterno e na terceira quando conscientemente reunimos tudo e começamos a gerar a si mesmo com delicadeza e amorosidade. Com certeza Marilyn não pode realizar a segunda e terceira etapa desta evolução. 
Daniel Jobim conta que o avô Tom o tirava logo da cama para ver os pássaros que só aparecem com os primeiros raios de sol. Faziam caminhadas pelas trilhas e que aprendeu desde pequeno a abraçar árvores... Disse que esta essência acabou se tornando tão inscrito nele que parece que faz parte do seu DNA.
Meu pai também me fazia abraçar árvores e dizia que era para renovar as energias. Falava para eu ficar quietinho para perceber a vibração dela em meu corpo.
Não abraço mais árvores, mas toda vez que quero a presença do olhar, abraço a lembrança deste pai que hoje internalizado e imortalizado em minha consciência, vive me abraçando para orientar meus caminhos de amor a mim mesmo e a vida.
Até hoje ele contribui para minha boa maneira de estar no mundo.
Eu gosto de estar neste mundo que meu pai me ensinou a desejar... E Você?
Lembra daquele que realizou a função paterna?
Aquele que por vezes nem foi seu pai biológico, mas que olhou e ensinou você a olhar um bom modo de estar no mundo. Abrace estes olhares para abraçar melhor a vida.
Abrace as boas lembranças de amor.
Gostamos mais de estar na vida quando lembramos do amor.