terça-feira, 13 de novembro de 2012

Excesso de Peso Para o Viver?


Sábado à noite, comecei a reservar pela internet, minha ida a Londres em janeiro por três dias, a partir de Paris com duas amigas e dois amigos. Sendo que, uma está debutando na cidade londrina, o que me faz renovar ainda mais o meu desejo de retornar. Quando visito um lugar que conheço, acompanhado de alguém que está indo pela primeira vez, meus olhos reconquistam a estimulante sensação da descoberta na redescoberta. 
Começamos, depois de tudo acertado, a organizar mentalmente as nossas bagagens. Estamos com a intenção de conseguir embarcar com uma pequena valise. Desejamos eliminar das pequenas viagens, os excessos que só servem na correria para pinçar a coluna, deixar marcas nas mãos e ainda enrijecer o pescoço.
Nada mais civilizado do que conseguir fazer uma leve trajetória, sem aquelas mãos e ombros ocupados devido à falta de capacidade de minimizar e conquistar um volume altamente clean. Não é mesmo?
Quantas vezes levamos tantas coisas que nem sequer usamos, ou se vestimos é muito mais para justificar aquela peça, do que por uma real necessidade.
Fim da viagem de avião, o aguardo das bagagens e a inevitável tomada de fôlego, concentração de forças, para tirar da esteira sem titubear aquele peso imenso, que parece mais que estamos no movimento de abandono para sempre de algum mundo, do que o retorno de uma ida de três dias para Buenos Aires, Punta ou um fim de semana na Provence.
Esse desafio todo em relação a um hábito de acumular nas valises o que não será útil, me levou a pensar naquelas pessoas que acumulam dentro de si um amontoado de mágoas, raivas, invejas e faltas de épocas distantes que com isso, acabam por criar uma bagagem emocional pesada, toda constituída de dores e ressentimentos.
Carregar o peso das culpas inúteis, das acusações infantis de uma época já esgotada só faz transformar ao longo do tempo, a existência num caminhar amargo e pesado. Sabe aquela pessoa com um rosto com sinais de esforço? Esta mala é invisível, mas está lá sendo carregada pelo corpo subjetivo, já esgotado pela falta de trégua em suportar o peso que as amarguras contínuas impõem.
Já pensou aquela grande valise com roupas de 1958, 62, 66, 73, 79, 81 que se você tentar usar alguma parece de imediato datada, às vezes tão apertada que vesti-la é se abrir à construção de uma pessoa mais feia do que seria? 
Coisas datadas, que nos apertam, só nos fazem mal e entristecem a nossa alma.
A psicanalista Maria Rita Kehl em seu livro sobre ressentimento, escreve que este sentimento “não é um conceito da psicanálise. É um termo do senso comum que reúne uma constelação de afetos negativos – raiva... ruminações vingativas e amarguras. Acima de tudo, é uma queixa insistente, repetitiva que não aceita nenhuma forma de desagravo.” 
O que caracteriza o ressentimento? 
A persistência em manter. 
Dominado pela vontade de não abrir mão daquilo que pode ser até justificável e, portanto, legítimo, mas que a manutenção na memória só faz comprometer a vida.
Segundo Nietzsche, que realizou uma profunda reflexão sobre o ressentimento, é através da memória que algumas pessoas alimentam constantemente as impressões negativas. Isso, diz ele, provoca um ressentimento constante que acaba por levar a parecer muitas vezes, tudo mais grave do que a realidade da ofensa que a originou.
Se perguntarmos o “Porquê” daquela mágoa, olharemos para trás e estaremos com nosso foco na causa, que só fará realimentar o ressentimento. A grande pergunta que uma pessoa pode realizar, após um tempo de vivência e desabafo, se dá através do “Para que”... Para que conservar?...Aonde isto me leva? O que realmente ganho para a minha existência?
Muitas vezes se percebe que a causa desapareceu no tempo, mas o efeito dela a pessoa potencializa na conservação do ressentimento.
A incapacidade de perdoar o destino, está intimamente ligada à ideia infantil de que as pessoas têm que acontecer na nossa vida do modo como precisamos. A posição imatura de desejar uma vida absolutamente encantada, leva a incompreensão de que cada um acontece na vida como pode, cada um age dentro das características e limites psicológicos próprios. Se percebermos que alguém tem o dom de nos destratar e machucar? O que fazer?
Primeiro aceitar que as frustrações são desencantos, mas passam longe de ser um castigo existencial.
A aceitação passa para muitos como um sinal de passividade e fraqueza, mas ao contrário, ela simboliza potência e libertação. Ser dominado por um ressentimento que começa a pesar é se tornar refém passivo do acontecido, sem controle algum sobre a duração do efeito do mundo exterior em si mesmo. 
Um ressentimento é considerado patológico, quando sua permanência se torna muito longa.
Aprender a se desapegar, seguir em frente ou se possível evitar situações que machucam, são grandes conquistas que uma pessoa pode realizar para si mesma.
Outro dia ouvi de um amigo uma piada que pode bem ser colocada neste contexto.
- Duas irmãs entraram numa farmácia e a menor estava diante da balança de pesar e a mais velha a vendo chegar muito perto disse alto: “Não, não irmã, desvia disso! Venha pra cá! Toda vez que mamãe pisa nisto, chora muito!”
A irmã mais velha desta piada pode representar a vivência, a coisa aprendida através da experiência. O saber tirar da situação o que machuca e ficar atento a se preservar daquilo que fere. Muitas vezes podemos desviar dizendo a si ou até mesmo ao outro - “Alto lá! Isso não!”
Nietzsche, em suas longas e profundas reflexões sobre o ressentimento, falou que: “O esquecimento é uma força que promove a vida.”
Estabelecer o desafio de rearrumar as bagagens, através de uma triagem das peças inúteis e das essenciais, conservar aquelas que possam contribuir para se realizar uma viagem mais prática, confortável e bonita é a meta de qualquer pessoa com bom senso.
Uma pessoa pode comer tudo que deseja? Pode... Por que não? A questão é: depois de um tempo o corpo vai acumular e reter de forma que ao invés das reservas trazerem energia, irão dificultar o caminhar. Se movimentar irá deixar de ser algo leve.
Uma pessoa pode acumular ressentimentos? Pode... Por que não? A questão é: depois de um tempo as reservas de ressentimentos retidas irão igualmente pesar e dificultar o caminhar. 
Se movimentar também irá deixar de ser algo leve e o prazer irá se tornar comprometido.
Na verdade podemos tudo... mas nem tudo que podemos, devemos realizar sem medidas...
Tem coisas que são boas, mas que no excesso não fazem bem. Não é mesmo?
Podemos fazer malas enormes, podemos comer muito, beber muito, se ressentir muito, mas o tamanho terá um peso a ser suportado.
Que tal abrir suas bagagens e começar a realizar uma triagem? 
Retire os sentimentos vencidos... mofados... antigos e areje sua alma para que ela se sinta menos sufocada, cansada e possa com esta liberação conquistar mais espaço para o novo.
Vou a Londres. Ao mesmo lugar, mas desta vez de um modo novo. Tenho certeza que estarei no mesmo horário diante do Big Ben, mas o tempo será outro.
Assim pode ser com tudo, o mesmo lugar, mas um tempo interno renovado.
Ponha na “nécessaire” o que for essencial para viver bem e Boa Viagem pelo cotidiano das novas horas.
Está com dificuldade de fazer isso sozinho? Peça ajuda a quem já aprendeu. Diga igual aos Beatles: “HELP !” 
Tenho uma amiga que me disse um dia: “Me senti a pessoa mais civilizada do mundo quando peguei um avião apenas com uma bagagem de mão e outra altamente analisada no bagageiro”.
Um Saber que fez ela se sentir orgulhosa de si.
Fez ela se sentir muito Sabida.
Aprendeu a Retirar O Excesso de Peso no Viver.

Por Manoel Thomaz Carneiro

13 comentários:

  1. é Manoel estou mesmo precisando arrumar as malas pq estou levando na de mão o que deveria estar no bagageiro...obrigada
    bjs
    sonia

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    1. No bagageiro tem mais espaço e elimina-se o risco de tudo cair na cabeça...Que dor!!!
      ,Um beijo,
      Manoel Thomaz

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  2. Parabéns, muito bem escrito e argumentado. Vamos tirar "os pesos" de nossos dias!
    Gilbert filho da Oleisa

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    1. Gilbert,
      Tirar os pesos que tornam a existencia melancolica e pesada.Esta é uma boa promessa a se fazer..
      Um abraço,
      Manoel Thomaz

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  3. Sonia, Todo dia é dia de começar !
    Nunca é cedo!
    Nunca é tarde!
    Um beijo
    Manoel Thomaz

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  4. Tão bom quando libertamos-nos e permitimos o movimento, o voo!Manoel, Obrigada por mais esta leitura que vem despertar com a leveza que lhe é inerente!um beijo! Andréa J.

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  5. Sonia Severiano Ribeiro13 de novembro de 2012 às 21:56

    Minhas malas realmente pesam, nunca sei como estara o tempo e estar prevenida me da uma sensação de segurança, agora, peso da vida, não levo, não tenho magoas e nem rancores, as magoas demoram mais a passar pois, machucam, mas, se vão.O horizonte é infinito e como ele minhaEsperança de um amanhã sempre melhor e para isso tenho que estar leve, coraçaõ aberto...A vida é curta, temos que aproveita-la!
    vamos colocar flores no caminho e desviar dos espinhos...Beijo, Sônia Severiano

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  6. Só vc foi capaz de me ensinar a diminuir o peso das minhas "malas".
    Obrigada por tudo que vc tem me proporcionada ao longo destes anos que tenho o privilegio de ouvir seus ensinamentos.
    Bjs.
    Verinha.

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    1. Verinha,
      Seus olhos atentos ao saber são estímulos a destinação que dei em minha vida.Obrigado a você.
      O saber sabido é o melhor conteúdo fe uma bagagem.
      Um beijo,
      Manoel Thomaz

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  7. Maravilhoso esse texto....nada facil tirar o peso das malas....mas você nos ensina a tira-los ...vc nos mostra como a leveza da bagagem e importante....Obrigada por cruzar meu caminho e entrar no meu vagao....Beijo no seu coração!

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  8. É REALMENTE, O IMPORTANTE NESSA VIDA, É ESTÁ COM POUCA BAGAGEM, E COM Á ALMA LEVE. VALEU MESTRE !

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  9. Querido Manoel,
    Como tudo o que você escreve, maravilhoso! Obrigada por existir!!! bjs, sua aluna e fã, Andrea.

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  10. Repetimos modelos herdados genéticamente por nossos antepassados e cabe a cada um trilhar o caminho da evolução, buscando o EU, desapegado, livre. Quando estamos de "corpo e alma"atingimos nossos objetivos.

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