Fui no sábado ao Teatro Municipal assistir a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, regida pelo maestro Fabio Mechetti, com a pianista convidada Sonia Rubinsky. Noite agradabilíssima. Uma Orquestra linda de se ver e ouvir, Sonia em sua eterna elegância transbordou segurança e prazer.
Após o término, fui fazer a fila para cumprimentar a pianista. Depois, os amigos que estavam comigo, chegaram. Ao se juntarem a mim, a mulher de trás se pôs a reclamar, com toda razão. Eu disse para ela passar a minha frente, pois assim aquela desordem se colocaria logo em ordem, de uma vez que por alguns instantes a fila terminava ali... Sem conseguir se dar por satisfeita com a zerada do problema, continuou a suspirar e resmungar numa irritação desproporcional ao tamanho do fato e ainda entrou numa competividade de poder, bem demonstrada ao me dizer com um ar de desprezo irônico, “Se eu quiser nem entro nesta fila! Posso falar com ela pelo telefone!” Pensei então: “Nossa... Estou ao lado de uma Mulher-Bomba”. Respondi que entrar naquele clima ofensivo era desnecessário, pois afinal prontamente a solução já havia sido dada, era só uma questão de troca de posição. E ainda disse, já irritado; “Se situa. Isso tudo é desproporcional.”
Passado uns três minutos quando olho ao meu redor, naquela fila já enorme, vejo a mulher esbravejante, que deve ter em torno de seus 45 anos, lá adiante no segundo lugar de espera para falar com a pianista. Fez com todos o mesmo ato de desrespeito que a tinha indignado. Neste minuto cruzou o olhar sobre o meu com um semblante de vitoriosa e então, cruzei meus pensamentos reflexivos e concluí: Vitoriosa na fila, Vencida na Vida.
De imediato, tomei-a como um dos exemplos sobre o que havia desenvolvido em aula nas duas últimas semanas “O Conflito do Eu com Isso se Torna o Conflito do Eu com o Mundo”.
Nas aulas, falei sobre a atenção que devemos ter em se controlar com lucidez, para impedir que o conflito interno se transforme num modo de viver o mundo. Quando uma pessoa deixa de conseguir manter o conflito que a perturba numa proporção equilibrada, de modo a permitir que ele – conflito – cresça e ganhe potência para contaminar o mundo, eis o princípio da psicose que se instala.
Recalques, amarguras, ressentimentos podem nos transformar, você, eu e todos, em uma pessoa com potencial explosivo.
Quantas pessoas parecem carregar uma ferocidade devido às amarguras sem elaboração... Quantas que fazem das buzinas dos carros armas sonoras... Quantas passam dando esbarrões agressivos pelas ruas afora... Quantas nas revoltas de uma vida mal conduzida se tornam atropeladoras do prazer alheio... Quantas gostam de tratar o outro com certo desprezo... Quantas enfim estão mal nesta vida... Quantas pessoas? Muitas neste imenso mundo.
Precisamos ficar atentos consigo mesmo. Precisamos controlar esta tendência humana.
Neste mesmo sábado tinha lido no Caderno Prosa do jornal O Globo, o que José Castello escreveu em sua coluna “Quantos de nós preferimos – viver sem viver – sob as ordens de um destino precisamente escrito, entre bandos “que matam sem matar” entre “bravos que no fim se vingam”... Preferimos sim, os sentimentos... que em vez de libertar funcionam com travas...”.
Ela, a que denominei “Mulher-Bomba,” estava tomada, dominada, vencida por algum conflito de sua vida que estava funcionando como travas. Qual conflito? Qualquer resposta será pura especulação sem fundamento. No entanto, pode-se considerar que pode ser até algo que possua um peso real, mas que por falta de reflexão, ponderação e controle a contaminou, a travou.
Por que recorro ao termo controle ao invés de elaboração? Porque a elaboração está longe de poder eliminar todos os nossos aspectos ameaçadores a vida cotidiana, mas através dela podemos conquistar a capacidade de reconhecermos o que é saudável ser vivenciado e o que deve ser controlado. Nasce o contato com a capacidade de controlar determinados impulsos... Controle sim, pois a civilidade envolve a capacidade de reprimir determinados sentimentos e determinados impulsos de agressividade, que garantem nosso equilíbrio e a qualidade em saber olhar e respeitar o outro.
Como sempre afirmo: Podemos muitas coisas, mas nem tudo que podemos devemos.
Os acontecimentos mais difíceis de nossas vidas podem nos primeiros instantes e dias invadir a nossa existência de modo até a comprometer a nossa capacidade de viver o dia, mas a atenção deve sempre ser mantida para que o desgoverno pessoal não se transforme em sentimento debilitador de nossos discernimentos e invada todos os setores de nossas vidas.
José Castello neste mesmo sábado, nos traz um poema onde fala sobre uma enigmática aranha que transita em nós. “A beleza pode estar numa aranha que anda, sem que possamos entender seus motivos. “Sem que eu, a testemunha,/ saiba, digamos, interpretá-la”. A aranha (repugnante) expressa a dança dos sentimentos: eles se movem no escuro, dão saltos imprevisíveis e escapam a toda compreensão. A aranha ameaça e fere: ela nos atinge. Permanecemos em silêncio, com a beleza da sua dança, ainda que repulsiva. Vá se entender com o que sentimos.”
Poderíamos também pensar:
Vá se entender com que sente.
Vamos nos entender com o que sentimos.
A noite de sábado, plena de música, pessoas, num ambiente tão secular é como um vinho que derrama sob nossas taças, sob nossas almas, mas algumas já estão tão plenas de amarguras, que ficam impedidas de se embriagarem com a sensualidade destes momentos.
As almas devem ser lavadas com as reflexões e elaborações. As almas devem ser purificadas com a lucidez... As almas devem estar sempre liberadas para receber o Belo e o Bom.
Caso não o faça, ela explode como uma bomba sempre por alguma razão deslocada...
Mulheres-Bombas... Homens-Bombas...
Um Atentado... Socorro! Polícia!
Análise Neles!
Por Manoel Thomaz Carneiro
Qie crônica bacana!!Através de uma atitude foi feita uma interpretação genial!!
ResponderExcluirUma super sacação ! Devemos estar sempre atentos quanto as nossas posturas!
Como sempre nosso guru mostrou as nossas facetas......
Adorei! mil bjs
Ana Paula Leão Teixeira
Ana Paula
ExcluirObrigado...
Polícia nos traços explosivos!
Um beijo
Manoel Thomaz
O paragrafo das ALMAS é essencial... genial! Obrigada. Estella
ResponderExcluirBRAVO!
ResponderExcluirBRAVÍSSIMO!
carinhos
JACINTHA
Aposto que ela (a granada) não leu sua crônica anterior, de 13/11 e portanto , vencida, não aprendeu a gritar Help, como os Beatles!!!rss
ResponderExcluirE por isso, bate e debate-se ante os conflitos!
Manoel, hoje, depois de ler esta crônica, tenho vontade de, tal qual um canhão, rsss, dispará-la a todas as pessoas que eu conheço e desejando também que aquelas que eu não conheço, possam ler e absorver esta sua contribuição tão rica para todos nós!
No mais, desejo que a serenidade me acompanhe, que as delicadezas, assim como as gentilezas me rodeiem, o que não sugere a ausência de conflitos, porém que estes não comprometam a minha existência.
...e se ainda assim ficar difícil, vou gritar Help!!!!rss
Obrigada por seus ensinamentos maravilhosos, sempre!
Um beijo
Andréa J.