Outro dia fui jantar no restaurante “Il SUPPLI” com uma amiga que foi a segunda pessoa que conheci aqui em Paris há 20 anos. Aliás, um ambiente muito charmoso e uma excelente cozinha que fica em Saint Germain. Ela me pediu para ir com um amigo que estava de passagem por Paris, que vou chamá-lo de Philippe Julien, um nome próximo do verdadeiro. Ele veio para ter uma sessão com um terapeuta.
Em um determinado momento durante a nossa deliciosa degustação da entrada que se chama Assortimento Italiano Maxi, Philippe começou a contar o porquê tinha marcado uma consulta... Com os olhos voltados para a minha amiga, me disse: “Há dez anos perdi minha mulher num acidente de carro e tenho a impressão que ainda não me recoloquei na vida, mesmo que hoje eu tenha uma companheira. Não vivemos juntos. Minha mulher estava no retorno do trabalho e conforme testemunhas, de modo súbito perdeu a direção e teve morte instantânea. Vi-me diante deste drama com três filhos, que se conduzem com muito equilíbrio apesar desta perda brutal e precoce. A caçula mora comigo, pois ainda está com 15 anos. O tempo passou eu bem sei, mas o problema é que depois deste acidente, me sinto frágil e tenho sempre medo que me aconteça qualquer coisa. Eu fico sem saber se teria forças para passar por mais uma provação. Sabe?” Continuou a me falar numa emoção contida “Minha mulher foi o meu grande amor... Vim a Paris porque precisava falar com alguém... Preciso me desconectar deste susto. Ainda estou em suspenso, como se estivesse parado num ponto a espera de não sei o que.”
Enquanto ele falava comecei a passear pelas trilhas de minhas reflexões em relação às histórias de dor e de busca de continuidade.
O drama de Philippe Julien tem um lado do inexplicável do destino. Torna-se difícil ultrapassar um drama quando ele parece inexplicável. Uma das grandes buscas em análise é dar um sentido aos acontecimentos, é encontrar uma razão ao vivido. Tem dois tipos de busca na ajuda terapêutica. Para algumas pessoas a necessidade de realizar uma análise nasce na vivência das situações difíceis e repetitivas, para outras, como para este homem de 49 anos, o desejo surge diante do encontro com os dramas dos quais em nada foram responsáveis pelo acontecido. Dentro destes casos, melhor que a ruminação estéril e improdutiva, o melhor é sempre se lançar em novos desafios na vida, pois se lançar em projetos é colocar a vida de novo nas próprias mãos, para se criar a sensação de controle e abrir a mente para os pensamentos de um novo futuro.
O psicanalista disse a Philippe: “Você esta preso na perplexidade... Se lance em um de seus projetos que estão em sua cabeça, para que esta fase não dure muito, senão ela poderá se transformar em morosidade e depois em morbidez. Evite que este drama se torne uma tragédia pessoal”.
“Sabe Manoel, - me disse ele já encerrando o assunto no tempo permitido a se lançar um tema desta ordem no contexto de um jantar aqui em Paris -, queria apenas com uma sessão verificar se eu tinha me conduzido bem e, sobretudo ter uma orientação sobre o que fazer para dar continuidade a minha vida num espectro maior... Dentre tantos desejos que guardo em mim, decidi me mudar para Paris e transferir a sede da minha empresa para cá. Vou sair dos terrenos mais calmos, onde vivi o meu casamento e o meu luto e fazer uma nova perspectiva. Aqui vou fazer a gestação de mim. Vou guardar o Phillippe e viver a partir da outra parte de mim que é o Julien”. Olhou para mim e perguntou: “O que acha?” Levantei a Taça com o maravilhoso vinho tinto e brindei: Ao Julien de Paris...
Fiquei aliviado por testemunhar o encontro de uma pessoa com a saída do labirinto da dor. Pensei nos brindes que podemos realizar diante das permissões de continuidade apesar dos pesares.
Pensei nas taças que podemos erguer para brindar a parte de si renascida. Há no Philippe a presença eterna de sua dramática história, mas há nele também a parte que ele salva de morrer como sua mulher. Ele se ergue com a parte Julien.
Eu, você e qualquer pessoa poderemos pegar um sonho reserva para erguer a nova vida.
Acabei de ver o depoimento de uma menina chamada Malala Yousafzai que foi atingida num atentado a um ônibus escolar no Paquistão. Saiu profundamente machucada e com ajuda humanitária mundial foi levada para Londres. Antes de se submeter a segunda cirurgia, deu uma entrevista coletiva em que disse que agora a nova vida que D’us deu a ela, será toda dedicada as crianças que sofrem devido aos fanatismos. Malala Yousafzai encontrou um novo sentido, deu uma direção e pegou a parte renascida e ergueu sua vida através de um novo ideal.
Um brinde as Malalas da vida!
Um Brinde a Vida!
Um Brinde as Saídas de Julien, de Malala e de Todos Nós!
ResponderExcluirsensacional vou à procura de um brinde!!!
sonia di marino
Continuo lendo e adorando as tuas crônicas mas
ResponderExcluirsempre sentindo falta das aulas. Estou indo viajar por uma semana de navio com Simita e tbem. outras alunas da tua aula. até a tão esperada volta. ALICE
Manoel querido
ResponderExcluirQue saudades!!!
Te amo muito, tudo em você é grandioso e maravilhoso.
Bjs mil
Loris Calirman
...as infinitas possibilidades...renascer!
ResponderExcluire como diria a música...Nascer para o que há!
Um Brinde, Manoel!
Obrigada!beijo, Andréa J
Manoel
ResponderExcluirFico mto feliz ao ler suas crõnicas!!!!!!
Sonia Silvia