Toda vez que entro de férias do curso que ministro no Leblon, deixo de lado os livros tão presentes em minha vida e me ponho a ser pesquisador em banca de jornal.
Adoro, para descansar a cabeça, folhear revistas e como um devaneio descompromissado me ponho a ler uma a uma. São pinçadas revistas de decoração, de psicologia orientada para o público feminino, bem como outras tantas.
No sábado estava com espírito buscador de ineditismos e lá fui com olhos aventureiros a procura de algo novo. Encontrei uma revista linda, folha e capa de primeira e com adrenalina comprei-a.
Preparei-me para fazer a descoberta e com a manta me aninhei.
Ao abri-la vi que se tratava de uma revista sobre festas cool e DJs. Que decepção a minha. Nada a ver comigo. Só tinha comprado esta.
Nada a fazer!
Comecei então a pensar nos questionamentos que havia colocado no quadro na última aula deste semestre.
“- Qual a sua maior identificação atual?”
- Você está parecido com o que?
- Você está parecida com quem?”
A minha revista estava destituída de qualquer elemento identificatório comigo. Era um significado que não se tornou significante. Eu, portanto não tinha identificação alguma com ela.
Pensei nas identificações que temos na vida.
Você pode se identificar com mar ou piscina, cidade ou floresta, com cão ou com gato, com filme francês ou americano, com cabala ou com o budismo. Cada coisa irá definir a sua pessoa, o seu estilo e o seu perfil.
Mas além dessas existem também as identificações com as circunstâncias, com os sentimentos, com as realidades e com os acontecimentos positivos ou negativos.
Você já se fez esta pergunta? Já se indagou o por que você carrega um sentimento há tanto tempo?
Você está parecido com o que? Com o abandono que alguém trouxe a você e passou a viver como abandonada?
Você está parecida com o vazio de uma ausência e se tornou o vazio?
Está sem perceber fixada nas situações que criam apenas os sentimentos ruins?
Deixou de se identificar com as coisas que estão corretas e boas e está projetada nas identificações negativas?
Se sim, está então na leitura da revista errada que não trará nada de construtivo para você.
Identifica-se apenas com os vazios, as doenças, os remorsos e as faltas? Tem dúvida que o seu rosto será o reflexo do que você se identifica?
Como Freud afirma, é através das nossas identificações que estruturamos nossa realidade psíquica e através dela é que vamos sentir a vida.
Tornamo-nos coerentes com aquilo que nos fixamos, identificamos e introjetamos.
Se você só se alimenta das coisas que faltam ou que estão com defeito de modo algum poderá sentir satisfação em si mesmo, em relação à vida ou em relação à alguém.
Somos modelados através daquilo que mais olhamos.
Toda vez que alguém descobre no curso que sou filho da Virgínia, aquela que realiza palestras sobre testemunhos de vida em vários locais, ouço: “Você se parece com ela.”
É fato! No modo de ser por me identificar com muitos aspectos dela e também de meu pai, assimilei e tudo passou a fazer parte da minha psicológica corrente sanguínea.
Já percebeu se você está reproduzindo algum padrão de comportamento da sua avó melancólica?
Você está parecido com o seu tio amargo?
Você está parecida com a sua mãe ressentida?
Você se torna a imagem e semelhança de suas identificações conscientes ou inconscientes.
Encontrei por acaso um conhecido que há muito não o via e que me contou que teve um problema no ligamento do tornozelo esquerdo. Contou-me que ficou um mês sem poder colocar o pé no chão. De muleta depois de uns dias se tornou impossível andar, pois machucava a palma das mãos. Disse-me que se pôs a encontrar uma solução. Como atendia em casa para trabalhar era mais fácil, mas para realizar a rotina diária tudo estava complicado. Parou, pensou com identificação em encontrar uma solução e a mente então trabalhou sob este comando e criou uma alternativa para ele: Imaginou uma mochila nas costas para carregar o que precisava de um lado para outro e para ficar livre da muleta passou a engatinhar... Ao se dar esta solução encontrou um modo de se perspectivar. Impediu-se de se identificar com a limitação e buscou uma identificação operacional, produtiva e positiva.
Mudou o seu foco. Olhou e elegeu para se identificar com a perspectiva de uma solução.
Mudanças de foco é um ato de amor, de amizade a si, de generosidade e gratidão com o tempo que a vida nos oferece para viver.
Ganhei na última aula de uma aluna um livro intitulado “Poesia Completa de Manoel de Barros” da editora Leya, que achei a minha “cara”! Ao abrir me deparei com um trecho que transcrevo:
“Ando muito completo de vazios.
Meu órgão morrer me predomina.
Estou sem eternidades...
Enfiei o que pude dentro de um grilo.
Essas coisas me mudam para cisco...
Estou deitado em compostura de águas.
Na posição de múmias me acomodo.”
Assim se fez este interlocutor... Enfiou a vida em algo mínimo, que o fez cisco, e se posicionou como múmia a espera de outra vida para viver... Se tornou isso pois assim elegeu esta forma de ser para se identificar. Se fez pequeno, se fez cisco e se tornou múmia. Engessou-se para as perspectivas e se tornou petrificado.
Você sabe se dizer?
Vai se colocar deitado como múmia a espera de outra encarnação para ser o que pode ser agora?
Comece engatinhando... Com o tempo você irá se equilibrar nas boas identificações. Naquelas que trazem a melhor versão de você mesmo.
Eu, como se diz, não morri na praia.
Fui à banca, expliquei-me e troquei por outra revista.
Remova as identificações que mumificam e engessam as linhas negativas de ser.
Escolha bons momentos para se identificar, boas pessoas para se modelar e se perspective através das identificações positivas.
Saiba Ser.
Você se parece com o que?
Pode ter certeza: com aquilo que você escolhe para se identificar.
Imagens: GettyImages
Prezado Prof. Manuel,
ResponderExcluirSou sua aluna novata, Lia, a que o presentou com um cachecol, e fui levada pela Maria Elena Landau.
Tenho apreciado muito suas palestras. Comprei recentemente seu livro na Argumento, assim poderei aproveitar mais suas palestras.
grata pela atenção, Lia Belart
Lia
ExcluirOlá! Que boa sincronicidade...Hoje mesmo peguei no cachecol que você me presenteou e sei que foi você a artesã..
Obrigado...Que o livro seja um compenheiro de sua alma pensante.
Um Beijo
Manoel
Vim parar no seu blog através do seu livro Pense Bem. Estou adorando o livro e esse seu texto fez muito sentido para mim. Muito obrigada por compartilhar conteúdos tão preciosos.
ResponderExcluirDulci Dantas
Dulci Dantas
ExcluirQue o seu pensar seja condutor de grandes ideias para a Vida que Vale a Pena ser Vivida.
Obrigado pela delicadeza de me escrever..
Um Abraço
Manoel
Adorei.Parabéns!
ResponderExcluirLea Nigri
Lea
ExcluirObrigado mesmo.
Um Beijo
Manoel
Como sempre, DEMAIS DE BOM!Denise Luna Guimaraes
ResponderExcluirDenise
ExcluirFiel seguidora do Pensar....
Obrigado mais uma vez
Beijo
Manoel
Ah... muito bom pegar uma revista... quando nos identificamos... aí é tudo de bom anima colore o olhar... Ana Maria Carvalho
ResponderExcluirAna Maria
ExcluirObrigado
Aproveite as férias
Um Beijo
Manoel
Vc quiz mudar um pouco sua rotina dos temas profundos e foi buscar uma revista e como um hábito pensou em sua última aula e teve o desejo de nos aprofundar naquele tema e mais uma cronica nasceu para que aquela aula prosseguisse e nos elucidasse mais e mais...
ResponderExcluirAchei que nas férias não leria crônicas e com surpresa leio esta incrível.....Adorei
Bjo
Obrigado
ExcluirViu? ...As férias deram uma surpresa...
Manoel
Fico feliz de vc ter gostado do livro.PenseiBEM antes de escolhe- lo para vc..como no outro comentário, achei que não leria crônicas este período de ferias e o livro foi só para relaxar, mas vc já criou diante de uma situação inesperada...E isso é o que vc passa p nos em suas aulas. Bj
ResponderExcluirManoel Thomaz,
ResponderExcluirRevistas "jogamos"?
Pessoas "tiramos" ?
Identificações têm : lé com lé e cré com cré ?
Tão simples?
Tão difícil?
Positivo é lé?
Negativo é cré?
Significados que não se tornam Significantes se grandes ou se pequenos ao conseguir ultrapassar barreiras na identificação entre todas as Almas.
bjks
Jacintha
Jacintha
ExcluirDos poemas.
dos temas que arremessam
ideias sobre os gessos
Bjas Manoel
Caro Professor Manoel, sou a Isabel de Lisboa e tive conhecimento de si através da minha querida amiga Sónia. Náo perco as suas crónicas semanais e estou adorando o seu Livro. É uma maravilha poder partilhar da sua sabedoria e sensibilidade sempre expressa de uma maneira tão clara.
ResponderExcluirAs suas cronicas são lições de vida e presentões que recebo semanalmente,e que me ajudam a questionar-me e por vezes mudar a minha forma de pensar ou reagir. Bem haja e um abraço da Isabel
Nossa Lisboa !!!
ExcluirAs Caravelas adentraram para levarem as Letras Pensadas a Terra dos Navegadores, do grande poeta.. Que emoção ter uma leitora por aí.
Obrigado..Ideias de fato ultrapassam fronteiras,
Um Beijo,
Manoel
Como não poderia deixar de ser , mais uma vez aprendi algo importante.Deixar de ser múnia e procurar revitalizar minha vida.
ResponderExcluirPena ,,,estou sem saber quem...
ExcluirUm Beijo
Manoel
Realmente vc tem uma capacidade de acertar o meu alvo. Tenho sido uma múmia.Realmente me reinventar, procurar outros modo de ver a vida.
ResponderExcluirObrigada mais uma vez
Acertei o alvo, mas fiquei sem saber que desejou me dizer
ExcluirUm Beijo
Manoel
Prof. Manoel
ResponderExcluire..já estás..D'ALÉM MAR.........!
e..cá estou..sem saber..nos meus quase 70 anos...
quem fui..quem..sou...quem serei....
e...fico a matutar...
tb..D'ALÉM MAR...
era..ALBERTO..
era..RICARDO..
era..ÁLVARO..
É..será..sempre..FERNANDO?
com açúcar..com afeto..
maria edna
Querido Prof. Manoel.,
ResponderExcluirque saudades das suas aulas. Venho me alimentando das suas crônicas que leio nessa tela virtual, que nada parece com as aulas presenciais, seu ânimos, sua intonação e seu bom humor, mas de longe, são palavras que me fazem seguir refletindo e avaliando. Estou naquela "peregrinação" volta ao mundo que comentei com você. De cada lugar que vou, escuto, aprendo, questiono... e inevitavelmente carrego comigo ou até incorporo algum aspecto que me identifiquei. estou aqui pensando - com o que estou parecendo. Deixei as roupas arrumadas, o esmalte, os acessórios, ando mais simples. Só tenho uma mala de 20kg pra um ano de viagem. Tudo está mais simplificado. Quando paro pra pensar - vejo que o que importa mesmo é ter saúde e paz, o resto.... se sou casada, se estou com a roupa tal, se fiz a sombrancelha, se tenho o cartão de visita... nada disso importa. Nos lugares que vou, sempre pergunto "você é feliz?", "você acha que o povo do seu país é feliz?", e tenho tido tantas respostas interessantes. "sim, não temos outra opção", "sim, tenho saúde e filho", "sim, sou livre", "sim, mas..." Não sei com quem ou com o que estou parecendo no momento, mas é como se todas essas pessoas, deixassem um pedacinho de suas vidas comigo e eu arrumasse no cantinho da mala um espaço pra elas. A mala engrandece, mas nunca aumenta de peso. Acho que estou parecida com uma ave livre, com uma criança curiosa abrindo um presente, com um mendigo faminto, com um escalador almejando o cume, com um leitor devorando o último capítulo do livro, como uma larva virando borboleta... obrigada pelos textos. beijo, Adriana
Caro Professor Manoel
ResponderExcluirAinda não o conheço.
Recebi como cortesia de amiga.
Comovente o comentario da Senhora Adriana Lacerda.
Faço agradecimento pela coerencia do texto num dialogo humano da referuda sra.
congratulações
Serafina
eu gostei
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