Cheguei ao verão parisiense após 22 anos sem revê-lo.
Já havia me esquecido da versão solar que a cidade possui. Minhas longas e inúmeras experiências no inverno me fizeram perder o contato com a memória de como era.
Encontrei uma Paris luminosa até as dez e tanto da noite e me coloquei a pensar como esta cidade consegue se adaptar e se transformar, trazendo à tona novas facetas de si. São calorosos jantares sobre as calçadas a céu aberto e ela completamente desnuda dos aquecimentos necessários ao inverno, abrindo-se ao azul que permanece como se tivesse preguiça de desaparecer.
Pensei nesta aptidão de se adaptar, transformar e oferecer a quem ali estivesse o melhor de si naquele contexto. Pensei em como ela deixou o inverno tirar férias e se entregou para o que deveria existir naquela época.
As árvores, que sempre encontro secas como se estivessem desnutridas, tornaram-se fartas e generosas em suas folhas verdes. Elas do fundo de si retiram a condição para o brotar. Nosso olhar pode aprender que árvores não são coisas, não são objetos. Como elas, podemos deixar de ser objetos ou coisas inanimadas para sermos vida em renovação.
Minha mãe outro dia me disse: “Sabe que não me sinto envelhecer? Tirei, continuou ela, a conclusão do porquê: o que envelhece é o que passou e ficou para trás. Sigo as novas visões e me refaço na vida através delas, pois para se fazer vida tem que se conceber todo dia. Caso contrário você se perde no que foi e já não é... Você desaparece com o desaparecido mesmo que permaneça organicamente viva”.
Pensei muito através dessa afirmação nas pessoas que se fazem incapazes de existir em cada estação da vida. Se estão no inverno não reagem e com isto se tornam frias, sem disponibilidade para encontrarem em si aspectos sensuais e acolhedores para viverem com criatividade.
O inverno em muitos países é o período de uma intensa atividade, diversos eventos e de grandes espetáculos. Com o ser humano o processo pode ser semelhante. Cada pessoa que se renova em seus próprios desdobramentos se torna instigante e profundamente interessante.
Mas... Como aprender a ser?
Nietzsche o disse muito bem: quando Napoleão admira Alexandre O Grande, não é para imitá-lo; é para se tornar um melhor Napoleão.
Mas para se tornar Napoleão é necessário compreender como Alexandre se tornou Alexandre O Grande. Admirar Alexandre é observá-lo nas particularidades que evidenciam as nossas possibilidades. A versão de um exemplifica, demonstra e através da nossa admiração pode nos ensinar.
Nós esquecemos seguidamente de admirar uma referência para alimentarmos o centro de nós e com isto conseguirmos parâmetros para refletirmos a evolução possível em si diante da própria vida.
Quem você admira?
Se passarmos a amar o processo de admirar como também afirmou Descartes, daremos o primeiro passo na constituição de ser, pois constituir é ultrapassar a si mesmo na direção do engrandecimento do Eu. Este processo sempre será possível através do exemplo de um outro admirado.
Quando vi Paris transmutada em verão, vi através dessa referência as possibilidades de transmutarmos.
Sempre me entusiasmo quando percebo alguém que tenha passado pelos caminhos do outro e que assim aprendeu a olhar e desta forma exercer outra voz e através dela dialogar com as circunstâncias de maneira mais favorável a si mesmo.
Viver é aprender através do olhar sobre as coisas e sobre outras pessoas.
Afinal, como afirmou Simone de Beauvoir, “Não há uma polegada do meu caminho que não passe pelo caminho do outro”.
Escrevo esta crônica em Búzios, de volta a pousada que existe desde os anos setenta, mas que sempre evolui e com isto se transcende. Nela através do testemunho do meu olhar admirativo, aprendo que o bom funcionamento, depende do que cada um realiza com foco e carinho. Como costumo passar longos períodos, percebo sempre detalhes de cada dia, desde as tarefas cotidianas, quanto as criações dos climas para cada momento: cinema ao ar livre, espumante para acompanhar o por do sol, velas por toda parte quando anoitece, perfumador de ambiente... Aqui ao observar a dinâmica desta pousada me inspiro na criação, na vontade de viver com climas internos, criando ideias que sensualizem minha alma. Aqui através de olhar este outro me inspiro a retomar com serenidade quando sinto que perdi a leveza.
Dessa forma contemplativa e curiosa, sob o signo da ideia “nietzschiniana” de admiração, se faz o ser que admira para buscar novas inspirações para o modo de ser.
Ao se olhar o que evolui e o que se desdobra em criação e desenvolvimento, abrimos a alma a experiência de ver o diferente na busca do igual.
Você tem buscado aprender a ser, a olhar o outro?
Você busca criar novos modos de ser?
Naquela Paris solar onde iniciei minha pausa de julho, nesta Búzios na qual a finalizo encontro a paz desta Pousada Casas Brancas. Encontro neste espaço buziano a mentora. Dona Amália, me faz sentir Napoleão, querendo ser outro. Querendo ser um desdobramento evolutivo de mim através da admiração por outro. A admiro para ser como ela continuidade com originais e elegantes desdobramentos.
A felicidade é de fato a gratidão que nossa alma sente ao oferecer chances de fazê-la existir com poesia nas diferentes estações da vida.
Viva Búzios... Viva Paris e, sobretudo Viva Todos os Aprendizes de Si Mesmo.
Viva Admirar e Ser.
Que palavras lindas!!!
ResponderExcluirVc sempre consegue expressar em linguagem escrita aquilo que se passa na nossa alma.
Sorte das suas alunas!!!
À Bientôt!!Bisous
Ana Paula
Ana Paula
ExcluirSaudades..
Quando vier ao Rio apareça no curso
Um Beijo
Manoel
Ainda bem que você voltou e voltou reabastecido para borrifar esse seu saber de viver bem em todas nós!
ResponderExcluirWelcome back!
Bjs
Denise
ExcluirObrigado...vamos em frente pensar os pensamentos.
Um Beijo
Manoel
Aprendiz de si mesmo, frase para meditar e ir em busca ......
ResponderExcluirViva o auto conhecimento , viva o saber sabido...
Benvindo Manoel
Bj VGon
Que bom saber que vc está de volta!
ResponderExcluirE realmente viva Paris que eu adoro, viva o verão parisiense, viva Búzios e viva para vc que sempre se supera em suas crônicas.
Beijão.
Verinha.
Verinha
Excluirè bom, muito bom estar de volta nesta busca em saber ser.
Um beijo
Manoel
Ola, me chamo Sabrina e hoje sera meu primeiro dia no curso. Venho acompanhando as crônicas e paquerando o curso desde junho. Acredito que sera engrandecedor para mim. Muito verdadeira a crônica! Bjs, Sabrina Marinho.
ResponderExcluirSabrina
ExcluirOlá
Espero que o seu saber sabido seja sempre indutor de grandes ideias para a vida que vale a pena.
OBA!! que bom que vc voltou já estava sem "gas"
ResponderExcluirdp de ler esta cronica estou sem palavras
bjs e até 4ª feira
Saudades de Paris, de Búzios, lugares diferentes,com igual admiração. Passar pela vida sem se admirar deve ser uma espécie de não vida. O outro nos fascina absolutamente, tanto as pessoas, lugares, comidas, sabores...Muito bom ficar fascinada por seus textos também e pelas suas aulas que nos encantam por nos revestirem sempre de novas, e boas possibilidades para a vida plena! Um abraço, Denise Ferracciu
ResponderExcluirOlá!!! qual endereço no Rio de seu curso Manoel: grata
ResponderExcluirOlá Malena, as aulas são no Centro de Eventos do Leblon Corporate na R. Dias Ferreira, 190 -Leblon. Temos turmas às 3ª das 14:30 h às 16:30, às 4ª no mesmo horário, ou às 4ª no turno da noite das 19:30 h às 21:10 h. Atenciosamente, Grupo de Estudos Pensar
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