segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Felicidade... Mágica ou Magia?

Alguém me disse outro dia, que achava que a felicidade era reservada somente para algumas pessoas iluminadas.
De fato a ideia da felicidade é encantadora nos magos e nos líderes espirituais. Inspira divindade. 
A perfeição que parece isenta de esforço para existir, se torna mágica aos olhos da humanidade. Uma pessoa que pareça naturalmente bela inspira também divindade... A ideia da falta de esforço em ser algo desperta o conceito do eleito, do abençoado e isto mexe com a fantasia de muitos.
Por que tudo isso?
Porque o esforço lembra dificuldade, rigor, trabalho e o que acaba por quebrar o encanto.
O cantor de ópera que canta uma ária sem demonstrar qualquer preocupação no que faz nos parece mágico. Torna-se um iluminado.
O ator que encarna o personagem e nos leva a esquecer da própria identidade, nos parece incorporado e iluminado.
Por esses aspectos é que algumas pessoas, quando se deparam com a realidade de que o equilíbrio emocional e a limpeza de um ressentimento envolvem um trabalho que é destituído de qualquer milagre, se decepcionam. A partir daí, passam então a viver uma gradual desistência do que ambicionavam. 
A mobilização de muitos é estimulada por uma ideia de receita rápida e miraculosa.
Por que isso acontece tanto?
Porque simplesmente acham que a felicidade deve ser algo divino e quem a tem a tem... Está incorporado numa genética abençoada, rara e única. 
A conquista da perfeição sobre a imperfeição envolve uma construção.
Ser uma pessoa leve, ser segura, ser mais independente está longe de ser uma conquista de um só golpe, de um só dia, e, portanto nem tampouco de uma só sessão de análise.
Um lado profundo da humanidade detesta todas as conquistas que envolvem esforço num tempo maior. Na mentalidade das pessoas no mundo atual as dietas devem ser mágicas e as perdas de peso no viver também.
Detox de vinte quatro horas para retirar todos os excessos e todos os complexos.
Estamos vivendo o império do não esforço prolongado.
Análise relâmpago... Aprendizados em uma só aula... Impaciência para retomada de temas... Impaciência para a reconstrução de afetos.
Fui assistir a peça “Rain Man” no teatro dos Quatro aqui no Rio de Janeiro, com Marcelo Serrado no papel de autista. Ele estava tão habitado pelo personagem que em certos momentos nos sentíamos integrantes daquela realidade. Um teatro lotado em silêncio e posso dizer que todos da plateia estavam tomados pela fluidez com que o personagem acontecia. Parecia não haver esforço nas difíceis modulações de voz, nas contrações do rosto e nas contorções das mãos. Ao terminar o espetáculo os aplausos foram de pé, mas para quem tem experiência de assistir peças fora do Brasil vê-se que nesta terra os aplausos são intensos, mas curtos.
Li em certa ocasião que os aplausos são para despertar os deuses para abençoarem aqueles que trabalharam algo de maneira profunda e disciplinada e se apresentaram de forma divina e encantadora. 
Os aplausos são, portanto um chamado às divindades para que eles possam jorrar dos céus recompensas pelo lindo trabalho realizado.
No Brasil muitas vezes este “chamado” é tão rápido, devido aos curtos aplausos apesar de intensos, que os “deuses” mais sonolentos, ou distraídos não são mobilizados, o que deve fazer com que os artistas saiam muitas vezes sem essas bênçãos finais... Penso que a mecanicidade do mundo de hoje abrevia e banaliza a noção do trabalho do outro.
No dia seguinte fui assistir no teatro Leblon, sala Tonia Carreiro, o espetáculo “Nós Sempre Teremos Paris”. Algo leve que faz a nossa alma sonhar.
A peça está calcada num aspecto da vida humana: aquele em que a sorte se apresenta, mas as pessoas a deixam passar. Nela um homem e uma mulher, dois brasileiros, se conhecem por uma mágica do acaso num café de Paris do Boulevard Montparnasse, mas por estarem presos nas próprias inibições deixam a chance escapar. Passaram vinte anos cada um em suas vidas, sonhando com aquele momento.
Diante dessa história, me coloquei a pensar em todos aqueles em que a vida apresenta uma oportunidade, uma circunstância favorável, uma chance para algo desejado, mas não se responsabilizam, não se mobilizam para realizarem o desejo através da parcela de trabalho, ou com o compromisso com os processos que envolvem a construção do que se quer para si. 
Ficam no querer queria. 
Desejam magias sem mágicas... As mágicas envolvem truques. Para realizá-las necessita de treinos disciplinados com o aprendizado de técnica e muito trabalho.
Muitos querem que a feiticeira balance o narizinho, ou que um gênio esfregue a lamparina para que tudo se transforme.
Outro dia no jornal O Globo, seção de Histórias em Quadrinhos, havia uma chamada: “Bastidores das Historias Infantis” em que tinha no desenho o Lobo Mau diante dos três porquinhos onde se dizia:
“Vocês sabiam que quando um Lobo Mau toma posse do cargo tem que fazer um juramento solene?”
Nesta historinha entre tantas mensagens ressalto uma: para ser Lobo Mau tem que fazer um juramento de estar imbuído de tudo que o envolve e o perfaz.
Para ser o Lobo Bom também.
Depois destas reflexões, quando me falarem que a felicidade é derivada de uma benção divina para poucos, defini para mim que vou concordar... Vou afirmar que sim...
Por que? Porque percebo que infelizmente são poucos os que querem assumir a realização do trabalho profundo do equilíbrio para a vida. Um processo que é “mágico” e que faz “magia” para quem o elabora muito. 
Quando me perguntarem sobre uma receita, vou passar uma para a felicidade que é mágica... A receita?
Aí está:
1 Kg de desejo;
500 gramas de disponibilidade;
Uma colher de sopa bem cheia de decisão;
Duas xícaras de perdão ao destino;
Uma colher de chá de propósitos de vida.
Misture tudo durante muito tempo. Unte uma forma com amor próprio. Coloque a mistura na forma. Polvilhe com crença. Ponha no forno das suas elaborações.
Deixe aquecer com a sua perseverança.
Depois de pronto, decore com pitadas de gratidão e sirva a sua realidade.
Excelente para celebrar os recomeços.
Depois de você exercitar a receita da felicidade e passar a viver com naturalidade a sua nova habilidade em ser... Aplauda a si com generosidade e fervor para que os “deuses” possam ser despertados para abençoar a sua nova atuação de vida.

Imagens: GettyImages

13 comentários:

  1. ...estou certa de que felicidade é aproveitar o tempo que voce tem para fazer todo o bem que voce puder nessa vida!".......
    Manoel, que texto mais feliz!Quanto bem voce faz. beijo, obrigada, Andrea Joao

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  2. Sensacional !!! Sem palavras !!!
    Até amanha , mestre
    Luciana Dale

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  3. Meu querido mestre...você realmente é um pessoa iluminada...e sim porque vc se esforçou para isso,e essa cronica é perfeita...tudo exige nosso esforço e dedicacção,amei os aplausou...amei ......amei a receita ....para poucos...precisa ter um bom forno e um mestre que te mostre a temperatura certa para faze-la...e suas palavras sejam nas aulas ou nas cronicas nos mostra o truque da receita.....obrigada por tudo....

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  4. Bravo!!! Bravisssimo! aplausos para vc sempre ,meu grande orientador
    bjs sonia di marino

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  5. LI, AQUI EM KUALA LUMPUR, ESTE TEXTO TAO BEM DESENVOLVIDO. UM DOS MAIS DELICIOSOS NÃO FOSSE O TEMA TAO VITAL E FASCINANTE.OBRIGADA E ATE A VOLTA. ESTELLA

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  6. Caro, Prof. Manoel,
    entendo q para viver com FELICIDADE basta viver sua própria vida deixando q outros sejam FELIZES com a vida q lhes pertence.
    e...assim....na torcida!
    bjs
    maria edna

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  7. Meus aplausos para vc serão eternos!!!!!!!

    Verinha

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  8. sensacional! vc não é só nosso mestre, é nosso mago......
    bj,
    milton horovitz

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  9. Como sempre seu texto nos encanta com toda sua magia, sim, magia, conquistada pelo esforço de se construir, se fazer e se transbordar, partilhando experiências e aprendizados de uma vida abençoada também, na sua essência cheia de possibilidades de maravilhar o mundo! Obrigada! Denise Ferracciu

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  10. Texto maravilhoso que continua sempre me enriquecendo. Ao meu mestre o meu eterno obrigada. Daisy Costa

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  11. Manuel querido,

    Adorei ter retornado. Como sempre genial tudo que vc escreve. Um beijo grande.

    Maria

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  12. Gostei muito, Manoel, principalmente quando vc analisa as dificuldades que todos temos de enfrentar para realizarmos algo. Atingir um resultado positivo envolve muito trabalho, doação de si mesmo, renúncias, em prol do objetivo que pretendemos alcançar. Este é o caminho da felicidade, com certeza. Pq cada degrau que subimos, cada desafio superado, é fonte de alegria e realização. Entendo que a felicidade não é um estado a que chegamos, mas a encontramos a cada conquista, não importa se ela é material, espiritual ou afetiva. Vc escolheu o caminho difícil do auto-conhecimento, mas o usa para ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo. Cada pessoa que vai se descobrindo por meio de suas palavras se torna um pouco mais feliz, o que te faz feliz também. É uma corrente amorosa que espero continue por muito e muito tempo!

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  13. A emoção tocou-me a alma!
    Sem palavras 👏👏👏

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