Uma amiga, nesta minha última estada em Paris, me disse que carrega uma grande culpa porque muitas vezes se sente distante das conversas, dos jantares e do lugar onde está. Falou-me que queria se sentir mais inteira, mais presente nas situações em que vive.
Lógico que devido a minha profissão, tomei este desabafo como um pedido de solução.
Isto me levou a pensar no quanto é difícil para os humanos estar plenamente presentes.
Somos, na verdade, seres habitados de passados que nos tomam e de inquietudes com o futuro que nos retiram às vezes totalmente do momento. Somos também seres permeados de sonhos e de desejos, que nos fazem divagar em paralelo aos instantes nos quais vivemos.
Vivemos um aqui no acolá de nossos devaneios...
Somos três partes em uma só pessoa. Devido a esta condição, temos sim dificuldade de estarmos inteiros no instante diante de nós.
Mas como afirmam os filósofos, esta é uma particularidade de nossa espécie e de certa forma pode ser nosso grande talento.
Esta característica nos faz ser tanto concernidos pelo que se passa diante de nós, quanto pelo que já passou e também pelo que poderia acontecer.
O passado e o futuro vivem em nós no mesmo instante em que os momentos presentes se sucedem.
Quem já não sentiu isso ao assistir um filme, em que algo incita a visita a um passado, que nos transporta a tempos e movimentos distantes, fora, mas presente em nosso interior... A mente humana passeia sem sair do corpo e nos leva às viagens dos pensamentos.
A letra de uma música, a frase de um amigo numa conversa e a familiaridade de um rosto passante podem ser acionadores de um devaneio e pela imaginação e memória saltamos o hoje e ultrapassamos geografias. Saltamos a imposição do momento e vivemos num só tempo diversos sentimentos e acontecimentos.
Outro dia fui tomado pela luz da manhã que incidia na orla de Copacabana, cristalina e leve ela me evocou a minha infância, os meus seis anos de idade vivenciados ali no mesmo local. Lá, naquele outrora de hoje, permaneci num diálogo com aquela época que me fez silenciar com aquele agora. De súbito como num salto ornamental me arremessei à hipótese de como seria os meus oitenta anos... Do presente para o passado e para o futuro...
Onde eu estava?
Em vários tempos, em vários pensamentos e em vários sentimentos, mas estava num só ponto: estava em mim mesmo.
Isso, em mim mesmo...
Se examinarmos de perto as situações onde parecemos intensamente presentes, como no prazer sensual, como diante da emoção estética ou mesmo na prática de uma atividade física, podemos perceber que esta presença envolve uma forma de ausência.
A felicidade é uma forma de ausência também, de estarmos numa levitação de si, suspensos pela sensação de incorporeidade na materialidade do corpo que somos. É também uma saída...
A beleza de algo, de alguém nos retira do momento.
Você já percebeu isso em você?
Somos mais complexos do que gostaríamos ser ou do que nos falam que deveríamos ser.
Somos mais intranquilos e mais móveis do que pregam...
Portanto, ao invés desta minha amiga se sentir culpada, ou mesmo de eu ou você nos sentirmos também, podemos estar na plena presença do que somos e na plena consciência de como somos.
Sem medo de nos alimentarmos da própria complexidade.
Por quê?
Porque a aceitação desta nossa natureza faz você plenamente presente.
Onde?
Presente na sua condição humana.
Esteja inteira na sua complexidade, para que saiba habitar os três tempos internos e que com isso possa dialogar com o diante de si.
Uma pessoa mais inteira nos mundos que são seus.
Isso é SABER SER.
Escrevi esta crônica em três tempos: no ontem da fala de minha amiga; no hoje da elaboração deste texto e no amanhã ao imaginar todos que a lerão...
Quantos momentos num só. Quantos tempos... Quantas vidas em mim.
Quantas vidas em você...
Complexo?... Mas somos mesmo mistérios.
_______________________________________
Lembramos que inicia esta semana o Curso Saber Ser
Agosto e Setembro de 2014
Prof. Manoel Thomaz Carneiro
Início das turmas:
Turma de 3ª feira (14:30 h às 16:30 h):
início dia 05 de agosto e término dia 23 de setembro
Turma de 4ª feira (14:30 h às 16:30 h):
início dia 06 de agosto e término dia 24 de setembro
Turma de 4ª feira (19:30 h às 21:10 h):
início dia 06 de agosto e término dia 24 de setembro
Local: Centro de Eventos do Ed. Leblon Corporate
R. Dias Ferreira, 190 – Leblon - Rio de Janeiro.
Informações e reservas: (21) 99983-5751 (ILANA)
Sempre maravilhoso!
ResponderExcluirDiana Obrigado
ExcluirQue as palavras se tornem boas ideias para os três tempos.
Um beijo
Manoel
Pensava esta tarde : que bom que o curso recomeça e novas idéias surgirão . Bom que ele existe ....levando -me a pensar e até filosofar !
ResponderExcluirSeja benvindo!
Obrigado...Fiquei sem saber que é. ..mas um beijo
ExcluirManoel
Manoel, que saudade de suas cronicas tao bem escritas e inteligentes... eu, tb em tres tempos ... no ontem de suas aulas, no hj com a leitura da cronica e ja no amanha, feliz com o nosso recomeco no curso, te deixo com um enorme beijo de boa noite e aplausos noturnos. Muito bom ter vc de professor. Ate breve!! Thaiza
ResponderExcluirThaiza...Boa habitante dos tempos do saber.
ExcluirUm beijo
Manoel
ADOREI e como sempre levou-me á reflexão EXCELENTE !muitas saudades das aulas,mas tenho fé que em breve voltarei
ResponderExcluirMil BJSUZANAGRINSPAN.
Suzana
ExcluirQue bom saber de você.
Um beijo carinhoso de saudades.
Manoel
saudades breve voltarei
ResponderExcluirbjs sonia di Marino
Sonia Um beijo.
ExcluirAté breve.
Manoel
Mestre Manoel, que alegria voltar a usufruir dessas crônicas tão maravilhosas, criativas e cheias de dicas de bem viver. Obrigada pela sua generosidade de nos jogar sempre pra frente e viver na verticalidade. Um privilégio ser sua aluna. Fico cobrando um novo livro, dessa vez, de todas as suas crônicas divinas compiladas!
ResponderExcluirBjs