quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Superstições, medos... Quem não os têm?

 Superstições, medos... Quem não os têm?




Conhecemos muitas superstições, não é mesmo? Não passar por debaixo de uma escada; Entrar com o pé direito; Passar o réveillon no Rio se possível evitando a cor preta e outras tantas mais. Algumas seguimos, outras banalizamos, mas de alguma maneira sempre conservamos ao menos uma.

Nos cercamos de todos os modos, de amparos e certezas, para apaziguamos as nossas inseguranças em relação ao nosso destino.

O medo do desamparo é presente na vida humana. Carregamos em nossa essência a difusa sensação de vulnerabilidade.

Desde os tempos mais remotos a humanidade concebia suas idéias de rituais de proteção.

O rei Ceso da Lídia consultou a Pitonisa do oráculo de Delfos antes de atacar a Pérsia. Muitos líderes políticos na Grécia Antiga usavam as profecias para orientar seus governos.

 De onde vem esta necessidade de se antecipar visões futuras e se proteger?

Qual seria a causa humana na busca de tantas certezas?

Chegamos ao mundo com uma “Estrutura Psicológica” que não nos habilita a darmos conta sozinhos da vida.

Por isso, desde que nascemos precisamos de olhos que nos acolham, que adivinhem as nossas necessidades. A sensação de confiança em si mesma, como pessoa, é desenvolvida à medida que os nossos "protetores" nos incentivam primeiro diante dos olhos deles a experimentarmos as ações independentes. Os cuidados que recebemos vão sendo internalizados gradualmente como sensação de amparo, que amortecem as nossas inseguranças, de modo que possamos de certa forma viver com medos mais apaziguados.

A nossa criança é o pai de nosso adulto.

Uma criança que tenha sido bem amparada, fará um adulto com menos superstição.

Freud afirmou que "...a intenção da psicanálise é fortalecer o ego, ampliar seu campo de percepção e aumentar sua organização, de maneira a que possa apropriar-se de novas partes do id” – e concluiu – “Onde era o id, ficará o ego."

O que isto quer dizer?

Onde era a nossa imaturidade e inexperiência, ficará a nossa percepção adquirida. Onde estão nossos calcanhares de Aquiles, nossos pontos fracos, ficarão também as boas certezas sobre si mesmo.

Pois é, sobrepondo as nossas inseguranças com experiências, vamos criando um ego que nos habilita a viver melhor.

Esse sentimento de poder contar consigo mesmo, nos propicia um sossego em nosso interior. Não conseguimos nos abastecer de toda confiança para não se ter algum grau de medo. Por isso uma pessoa sempre terá em si uma necessidade de algum amparo. Uns buscam na fé de uma onipresença divina sob a forma de um olho de "Deus Pai Todo Poderoso", outros se apaziguam nas certezas adquiridas através das ideias, outros sob a fé nas máximas filosóficas se fortalecem, diante de uma certeza por assim dizer mais intelectualizada. Não importa, seja ela uma fé socrática, ou divina o importante é nos abastecermos de certezas que nos promovam o sossego na nossa alma. Dessas certezas brotam as Lutas mais Serenas. Germinam em cada um de nós Olhos que nos Olham.

O importante é encontrar uma ideia que nos sustente.

Boas ideias nos encorajam e lembrem-se: coragem não é ausência de medo.

Aprendi há um certo tempo em Paris com um enólogo, que dentre as uvas a que mais tem antioxidantes é a Pinot Noir da região de Bourgogne. Cultivada em terreno adverso, ela precisa criar muita resistência para brotar. Vencer a adversidade da aridez, faz a uva ganhar propriedades únicas. Uma taça de Pinot Noir nos protege.

Da mesma forma que a aridez do terreno faz as uvas mais resistentes, nossas adversidades enfrentadas também nos fazem potentes, saborosos e interessantes como um bom vinho.

O melhor amuleto para nossas incertezas vem de nossa determinação “Pinot Noir”.

Para você desejo:

Saúde e boas safras existenciais. Cruzarei os dedos para que você as tenha sempre!!!


Manoel Thomaz Carneiro
Psicanalista/Psicofísico

Imagem: https://br.depositphotos.com/10529727/stock-illustration-superstition.html

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